textos 05 - Secção Infantil
Colaborei
na Secção Infantil do Cineclube do Porto. Estava eu, então, imbuída de
preconceitos moralistas que pensava deveria usar em favor das criancinhas:
querias-as boazinhas, metódicas, disciplinadas, atinadas. Resumindo:
subservientes aos conceitos de educação e perfeição dos adultos... que já se
esqueceram do que os fazia felizes quando eram crianças.
Na crónica falta de filmes para
crianças, muitas vezes se valia o Cineclube das fitas de Charlot para levar a
cabo as sessões. Eu discordava. Não só porque achava que nunca Charlot fora
criado a pensar em crianças, mas também porque pensava que algumas das suas
atitudes eram deseducativas: como bombeiro desligar o alarme do quartel para
não ser incomodado enquanto jogava as cartas; como relojoeiro não consertar os
relógios, antes os danificar e ainda agredir os clientes que protestavam, etc.
Comecei a chamar a atenção dos miúdos para esses “erros” e, agora, à distância
vejo-me a fazê-lo de um modo pretencioso.
Até que, um dia, um dos miúdos, catraio
ali do bairro de Miragaia, interrompeu-me:
Eunícia Salgadinho