Resposta da Presidente da Direcção do Cineclube do Porto
Chegou a meu
conhecimento uma missiva não assinada, lamentável até pelas "ideias"
(?!) que transmite, e um manifesto que circula sobre um suposto abandono
do Cineclube do Porto:
As "duas míseras horas por
mês" em que a secretaria estava aberta ao público (não falo de trabalho
interno e invisível aos olhos dos outros) saíam directamente do meu bolso, pois
ocorriam durante o meu horário de trabalho, posso afirmar que nos últimos três
anos efectuei trabalho voluntário de funcionária de secretaria (em horário bastante
alargado) e não recordo a presença ou interesse de muitas pessoas ou mesmo
associados, bem pelo contrário.
A título meramente informativo: a
nosso pedido, as Finanças estiveram durante o ano de 2008 nas nossas
instalações e tiveram acesso aos Estatutos e Regulamento Interno.
Quanto a suspeitas incertas,
posso afirmar por respeito a pessoas que desde 1945 trabalharam para a
criação de um Centro de Documentação (vulgarmente designada Biblioteca), que
tomamos a decisão de encerrar o espaço para o dignificar e terminar com o
"extravio" de obras cedidas para leitura caseira, não o encerrando no
entanto à cidade e a outras instituições - o que é uma faca de dois gumes
- pois pode despertar do seu sono, oportunistas e vampirinhos citadinos.
Aproveito para a agradecer a
lembrança da Instituição Finanças, e aproveitar a ideia da exibição pública de
caloteiros ao Estado - apesar da minha educação não permitir a divulgação
dos nomes das pessoas, posso publicar e exibir a lista dos títulos das obras
levadas e não devolvidas. Talvez alguns se lembrem que os livros que têm na
estante há uns anos, possuem dois carimbos, que não são de uso vulgar lá por
casa...
Quanto a um manifesto de ajuda “à
distância de um clic”, lavador de almas e do confortável já
ajudei:
Penso que o termo Movimento advém de um cartaz exposto na
sede e realizado pela Direcção durante a comemoração dos 60 anos do Cineclube,
e largamento elogiado e desejado por um jornalista.
O agitar da bandeira salazarista
também já cansa, é sedimento mineralizado na própria história desta Associação
e de muitas outras, nesta e noutras cidades.
Ao “grupo de cidadãos portuenses” com
um recentíssimo interesse, que os preocupa, venho informar que a situação não é actual. Arrasta-se mornamente
desde os anos 80 e não vou fazer uma análise sociológica da evolução do modus vivendi até aos nossos dias,
porque é fácil de perceber.
Em cinema podem contar-se histórias
(ou não):
2001 Porto Capital da Cultura -
repararam que o Cineclube não teve acesso a nenhum espaço e foi em Vila Nova de
Gaia que se realizaram as sessões? Não. Não são sócios, não iam às sessões,
apesar de serem abertas ao público em geral.
Mas recordam pela certa a frase: “O
Rivoli não é o guarda-chuva das associações portuenses” (um doce a quem adivinhar!).
Neste mesmo Rivoli, aquando a
Homenagem ao Realizador Roman Chalbaud, fomos elogiados por fazermos coisas
diferentes das habituais sessões quinzenais, mas que tinham uma imagem de
qualidade, gráfica e de gramagem de papel e um etc. de coisas sem interesse ou
qualquer peso artístico, a manter… e talvez por isso os postais de divulgação
saíram sem uma qualquer alusão ao Cineclube… ah! Também não vos vi lá!
2002 – A tão badalada tentativa de acção
de despejo, que moveu jornais, revistas, televisões, partidos. Todos recebi,
apesar de perceber o interesse por gotas de sangue que poderiam estar a
escorrer… ou a possibilidade de um estandarte político…
Se tivesse agido à moda da
terra(inha) deixava passar o prazo esperava que me dessem novas instalações e
provavelmente ainda recebíamos um Rendimento Mínimo Cultural.
Não achei correcto, e tudo tem
instâncias próprias para se resolver, foi pena ter demorado tantos anos, porque
a incerteza levou a mais abandono por parte dos sócios e à inviabilização de muitos
projectos. Pois mais uma vez, lembro-me perfeitamente dos verdadeiros
interessados e presença constante com ajuda concreta e palavras de apoio.
2004 – A Casa das Artes sofre um
problema estrutural e não é possível (até hoje) efectuar mais eventos cinematográficos,
sessões e oficinais infantis (não vi lá os vossos filhos, nem netos),
exposições, estreias, novas cinematografias portuguesas e estrangeiras,
retrospectivas escolares. Lembram-se?
2005 – O Cineclube sai triunfante da
acção de despejo. O prato estava gelado, nem para tapar um qualquer buraco de
página… não interessou falar sobre isso.
A utilização da Sala Bebé
transformou-se num aterrador flop, com mais problemas, e desinteresse dos
sócios – posso referir os nomes exactos dos que lá passaram – muitas plumas e
escarlate… e a mesma máquina doada por Manoel de Oliveira (faz mesmo muitos
anos), e os inerentes problemas com os recentes tipos de película… além de
esperarmos pela brigada de limpeza para conseguirmos aceder à sala sem ficarmos
atolados nos restos de vidros e lixo… isto não vos aconteceu, porque não
estiveram presentes.
Foi também nesse ano divulgada uma
amnistia para os sócios com quotas em falta, a que poucos aderiram. Refiro
muitas vezes os Sócios, pois estes são o motor (acrescentar, monetário) de
qualquer associação. E trabalhar graciosamente (leia-se não remunerado) para
ninguém, sem retorno ou demonstração de interesse? Não temos ideias masoquistas
sobre associativismo.
Torna-se dispendioso o aluguer de
filme, de sala, pagamento a um projeccionista, esforço físico e pessoal aliado
à total indiferença de todos – sócios, cidadãos, instituições governamentais,
dissidentes de 74/75 à época pouco interessados.
No jornal mais lido na cidade não há
qualquer indicação sobre os eventos realizados pelo clube ou associado a outros
parceiros culturais e institucionais da cidade.
Por amor à cidade onde nasceu o
cinema, e ao trabalho dedicado dos que verdadeiramente sujam as mãos no
associativismo, e isso não é chegar, e propor um jantareco e uns copos para se
resolver as coisas, ou ir dar umas ideias, (só alguns é que pensam?) que alguém
ficará a trabalhar, que se resolvem as situações.
Quando parte do espólio esteve em
exposição em Serralves, ninguém reparou que ele já era valioso? Devo avisar que
o seu valor não é monetário, é para além disso, mas certos pensadores
portuenses podem não perceber…
É com muito esforço pessoal, que a
renda está em dia, evitando que se perca o espelho do trabalho de muitos que
por aqui passaram com total desprendimento do valor do querido espólio, que
tanto brilho nos olhos está a provocar.
Quanto à notícia no Grande Porto, por favor decidam-se: mas
o espólio está em parte incerta, está abandonado, ou após a exposição, foi como
deve ser, recolhido e voltou à sede?
Espero também que esta brincadeira
de mau gosto, não estrague o trabalho de
sapa que tem vindo a ser realizado para o futuro da Associação.
Quanto a cineclubismos e
associativismos já ninguém tem paciência, espero por um Manifesto Sincero e Actual
pelo Clube Português de Cinematografia.
A todos os que lerem estas linhas, dissidentes
inclusive
Cordialmente
Brígida Velhote